
Escolher – do “destralhar” ao “Caminho de Vida”
A ideia de arrumar a casa, de largar o que já não nos interessa ou faz falta, de “destralhar”, é algo associado ao feng shui contemporâneo. Com o ‘destralhar’ há benefícios para o fluxo de energia no espaço, há um alívio da carga energética que nos liga aos objectos e há ainda um aspecto, menos referido, que é o exercício do poder de escolha. Essa escolha, associada simbolicamente à zona 8, feita com os objectos que temos em casa, projecta-se para a nossa vida no geral, o chamado ‘Caminho de Vida’.
E o que é isso do ‘Caminho de Vida’?
Há muitos que o associam à carreia, ao percurso profissional, mas essa é uma interpretação muito estrita. Tal como em casa temos, por exemplo, roupas, cremes e champôs e utensílios de cozinha, também fazem parte do percurso de vida a forma como me apresento aos outros, como cuido e me relaciono com o meu corpo, o que escolho para comer e cozinho.
O ‘Caminho de Vida’ consiste na própria Vida, no sentido em que há o tempo, permanentemente activo, e há acontecimentos, actividades, processos, interacções com os outros, que constituem a nossa jornada.
A vida é necessariamente feita de escolhas. Tal como em casa, não é possível ficar com tudo, optar por tudo. Podemos “caminhar à vista”, ou seja, sem rumo pré-definido e ir escolhendo em cada momento o que queremos. Os critérios para cada escolha podem ser inúmeros: o que fôr mais fácil, o que der mais prazer ou alegria, alguns escolherão o que fôr mais complexo ou desafiante, podendo-se até escolher em função das emoções do momento.
Quando aceitamos que os outros escolham por nós ou escolhemos em função deles podemos nem sequer nos reconhecer no processo, criando uma vida que não sintoniza connosco. Há quem queira que seja Deus ou Universo a escolher: “Se ele me propôs isto agora é porque é o melhor para mim”. Esta é uma opção em que se abdica totalmente do poder pessoal, o qual é inerentemente humano. Em ambos os casos perdemo-nos no processo.
Se não fizermos escolhas conscientes podemos até ter a sensação de que não escolhemos, que fluímos com a vida, mas na realidade há sempre escolhas, nem que seja por omissão.
Há tempos vi um cartaz num prédio abandonado que dizia ‘Correr sem Rumo é Esperar em Movimento’. A sua mensagem diz-nos que se não queremos estar numa posição passiva, de espera, é preciso escolher um rumo, um tema, talvez uma situação de vida futura. Se nos basearmos no “caminhar à vista” corremos o risco de ter um caminho errante, eventualmente com pouco significado para nós, sem grande evolução ou pouco gratificante.
A definição de um rumo significativo é sinal de que sabemos o que queremos. Ao chegar lá certamente tivemos também consciência do que não queremos. Ambos serão importantes para que possamos fazer escolhas: agarrar algumas oportunidades, deixar passar outras e muito importante – criá-las.
Quando definimos um rumo isso também nos ajuda a suportar momentos ou situações menos boas sabendo que o importante é um caminho gratificante e não apenas passos agradáveis em si mesmos.
E então como definir esse rumo? Como escolher? Com que base? A base terá necessariamente que ser a nossa essência, o que nós somos realmente.
E como saber quem somos? Como podemos aceder a essa essência interna, essa energia que sintoniza com a zona 1 da casa? Através do auto-conhecimento, que é em si parte do “Caminho”. A nossa essência não é algo a que possamos aceder na sua totalidade num determinado momento do tempo. Temos acesso ao que somos à medida que vivemos e à medida que vamos observando e tomando consciência da forma como vivemos, das escolhas que fazemos. Dada a nossa complexidade e vastidão interna, o seu conhecimento é um processo construtivo que é feito ao longo do tempo. É a consciência do que somos em cada momento que devemos utilizar para definir rumos, para de alguma forma criar pontes para o futuro.