Mudar de Casa
Com a chegada do Outono voltamos a casa. O Verão está para trás, acabaram as férias, os mais novos voltaram para a escola, e o tempo convida ao recolhimento, afinal o Inverno está à porta!
Nesta fase, ao aproximamos-nos de novo da casa, de alguma forma voltamos a nós mesmos. Nesse processo podemos sentir que a casa em que vivemos já não nos serve. Se há aspectos práticos que nos levam a isso, como por exemplo a necessidade de dispor de mais divisões ou de ficar mais próximo da escola ou do trabalho, na realidade o impulso de mudar vem da alma. A falta de espaço estava lá e tudo o resto também mas havia algo que nos fazia ficar. Agora a decisão está tomada: vou mudar de casa! E porque é que a alma decide mudar? Pode o processo evolutivo proporcionado por aquela casa pode, de alguma forma, ter terminado. O caminho da evolução agora é outro e terá que ser proporcionado por outro espaço. E se afinal o processo não terminou e os aspectos práticos imperaram na decisão de mudar vamos continuar o nosso processo numa casa com características semelhantes à actual. A antevisão do processo de mudança de casa nem sempre é fácil. Para onde vou? Será fácil vender esta casa? Quero ter o meu próprio espaço mas é tão confortável viver me casa dos meus pais? Será que me adapto a viver sozinho? Para o ajudar neste processo, deixo-lhe aqui algumas indicações que julgo lhe podem ser úteis:
Como em muitas outras situações da vida é bom libertar primeiro para deixar o novo entrar. Quem não quer libertar o ‘velho’ antes de ter o ‘novo’, pode estar com dificuldade em se desapegar da casa actual, pode ser uma decisão da mente com a qual a alma não concorda ou até não confiar na vida e que esta lhe vai trazer o que necessita. Também pode acontecer não sabermos o que queremos ou não sabermos o que é que na situação actual nos desagrada. Em qualquer dos casos é importante fazer algum trabalho de clarificação para que, expressas as intenções o universo possa corresponder-lhes. Como dizia Séneca: ‘Não há ventos favoráveis para o barco que não conhece o seu rumo’
Deixar coisas na casa de alguém é deixar lá uma parte da nossa energia e isso provavelmente não será positivo nem para nós nem para a outra pessoa. Se do nosso lado não queremos dispersá-la para quem se vai manter na casa a manutenção das nossas coisas poderá ser uma perturbação para o fluxo da sua vida.
As decisões de mudança de casa são por vezes acompanhadas de verdadeiras mudanças de vida na medida que simultaneamente se muda de ambiente (para outra cidade, para outros país) e portanto de local de trabalho e por vezes até de profissão. É por isso muito importante que nestas situações, em que o contexto vai ser completamente novo, a energia do Universo esteja alinhada com a nossa própria energia para que a mudança seja de facto positiva no nosso percurso de vida. A Direccionologia é um cálculo de feng shui que o pode ajudar nesse processo.
Esta é de facto uma parte muito importante do processo. Afinal vai escolher a casa para morar nos próximos tempos. Da minha experiência, se demasiadas variáveis forem deixadas em aberto o processo pode tornar-se demorado e penoso.
Penso que um bom ponto de partida deve ser a escolha da zona/bairro em que pretendemos viver. A casa é alimentada pela energia do exterior e portanto é bom que a zona envolvente seja simpática, calma mas com vida, enfim, que o convide a lá morar. A selecção do bairro é também importante para a sua vida prática. As deslocações que terá que fazer no dia a dia fazem toda a diferença em termos de qualidade de vida.
Todas as questões financeiras associadas à escolha da casa são importantes. Não escolha uma casa acima das suas possibilidades e vai fazer obras conte também com alguma folga para não se ver a certa altura num ‘beco sem saída’ financeiro.
É importante que a sua casa lhe agrade e seja confortável mas isso não devo limitá-lo nas várias dimensões da sua vida. Deixe recursos suficientes para a sua subsistência, para sair com amigos, para eventos culturais e outros que sejam importantes para si.
As casas que irá visitar podem estar vazias ou ter ainda móveis. Podem ter uma decoração gira ou completamente antiquada. Podem estar habitadas ou não. Podem precisar de remodelação ou estarem prontas a habitar.
A energia do espaço vai dar-lhe indicações imediatas. ‘Que casa tão boa!’, ‘Quero-me ir embora já’, ‘Tem pouco espaço’, ‘Tem pouca luz’, ‘É isto mesmo!’.
Se por um lado aconselho a confiar nos seus sentidos e a fazer uma escolha intuitiva por outro não posso deixar de incentivar o uso da razão no processo: depois de se instalar o mobiliário não vai ser aquele (para o bem e para o mal), se vai fazer obras o espaço vai mudar substancialmente. Tente ter uma visão funcional: as divisões são suficientes e há espaço? Agrada-me a configuração da casa?
A ideia será: como posso criar a minha casa a partir do que aqui está?.
Se já sabe algo de feng shui pode sentir-se tentado a procurar uma casa com planta rectangular. Talvez isso não seja assim tão importante. Não tenha receio: as falhas e extensões podem trazer mais dinâmica à sua vida e mais possibilidades de evolução do que uma casa com uma planta muito equilibrada. Confie em si própria e no que o seu coração lhe disser.
A mudança deve ser preparada com alguma antecedência para não se tornar em algo demsiado intenso e cansativo.
Este é o momento ideal para destralhar. De alguma forma este é um fim de ciclo. É uma boa altura para olhar para o que tem e fazer uma escolha. Percorra as divisões, uma de cada vez, antes ainda de pensar em encaixotar. O ideal será mesmo fazer um planeamento, limitando o tempo dedicado a cada uma das divisões. O que tenho que quero manter? O que devo dar? O que devo deitar para o lixo? Este trabalho é mesmo muito importante e este é o momento certo para o fazer.
Para facilitar o momento pós-mudança convém que cada caixote contenha coisas relativas a apenas uma divisão e que seja colocado no seu exterior um pequeno resumo do que contém.
Conheço pessoas que se mudaram e passados 10 dias tinham a casa totalmente operacional. Tudo nos sítios, tudo arrumado, quadros pendurados. Tudo pronto! Em geral este processo dá-se nas pessoas mais yang, aquelas que não querem passar por fases de maior indecisão, de contemplação. Aquelas que de alguma forma não suportam nem aceitam viver no caos. Aquelas para as quais a mudança (interna) poderá também ser menos fácil.
Conheço outras para as quais a mudança é mesmo um ‘work in progress’. Não sabem exactamente onde vão pôr a estante ou o quadro e ao fim de 2 anos ainda há alguns caixotes por abrir. Dependendo do nosso perfil vamo-nos inclinar mais para um modelo ou para outro tendo no entanto consciência de que a operacionalidade da vida prática e o nosso percurso evolutivo espiritual deverão andar de mãos dadas sem se perturbarem demasiado um ao outro.
Teresa Borges de Sousa Publicado no nº1 da revista “vento e água – feng shui lifestyle” de Outubro de 2017